Política

Política e religião se cruzam no cenário político brasileiro

Evento faz parte de uma série que discute caminhos para promoção da democracia

Qual a relação entre religião, política e luta ideológica? E qual o papel das universidades e dos movimentos sociais nesse meio? Essas foram algumas das questões discutidas no segundo dia da Jornada pela prevalência das ideias democráticas e progressistas, realizado no dia 31 de outubro, no Auditório do Sindicato dos Docentes da Universidade Federal de Goiás. O tema do evento foi “Luta ideológica – Partido Político e Religião. Participaram do debate o Presidente da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro, o professor da PUC Goiás, Alberto Moreira e o professor de História da UEMASUL e membro da Associação Brasileira de História da Religião, Moab César Costa. A moderação foi feita pela reitora da PUC Goiás, Olga Ronchi.

História da política e religião

Adalberto Monteiro trouxe dados que mostram que a polarização política continua no país: “A manipulação da religiosidade do povo é um dos mecanismos utilizados para captar defensores de um bolsonarismo, mesmo sem Bolsonaro, mas não só, há outros elementos e fatores”. Ele ressalta que a relação entre política e religião sempre existiu. Ele, como todos os outros palestrantes, lembraram o conflito que vem ocorrendo entre Israel e a Palestina.

O professor também ressaltou que a questão religiosa é histórica no Brasil: “Gerações de pastores foram formadas na lógica do combate ao comunismo. A Marcha da Família em 1964 é um clássico do apoio da igreja à causa política”, ressaltou. Para ele, os partidos progressistas precisam dialogar e realizar ações conjuntas com lideranças das distintas religiões.

Ocupação de espaços políticos

Alberto Moreira lembrou que vivemos 391 anos de união da religião e poder no país e não por acaso a religião sempre permeou nossa política. “Nos últimos 10 anos, na esteira do modelo dos EUA, uma forma de religião cristã de massa articulada com o autoritarismo. O apoio dos evangélicos continuou nas duas eleições e esse apoio foi decisivo para impulsionar o bolsonarismo. Ele enumerou características das estratégias utilizadas para a ocupação de espaços políticos por membros religiosos: “Eles oferecem candidatos como se fossem representantes de Deus. Atribuem a Deus o que é meramente criação humana. Se apropriam de símbolos religiosos. Usam da expectativa de milagre que o povo tem, justamente pela ausência política do Estado. A extrema-direita sequestrou a imagem da família para o alto das prioridades. Deixando questões como saúde, educação em segundo plano.” Ele avalia que “o capitalismo se impõe no mundo todo e gera uma grande dose de angústia coletiva. A religião ainda oferece a única gramática que algumas pessoas têm para entender a realidade, sobretudo pessoas que não têm acesso à informação”.

Ele também fez sugestões do que é possível fazer para melhorar a situação. “Precisamos desconstruir a ameaça de ser inimigos, somos todos brasileiros preocupados com a desigualdade, é preciso desfazer esse bate-boca. Procurar difundir e debater com as classes populares, dando acesso a dados relevantes”, sugeriu.

Teologia da amizade

Moab César defendeu o que ele chama de teologia da amizade: Não vamos resolver isso do ponto de vista religioso. Para ele, é preciso superar as diferenças religiosas. Ele ressaltou que pesquisas mostram que hoje as religiões já não passam mais pelas gerações e é comum ver pessoas de diferentes religiões em uma mesma família. Essa diversificação é uma forma de caminho ecumênico. Por isso ele acredita que o investimento na juventude é capaz de vencer o discurso de ódio.

Evento
As “Jornadas pela prevalência das ideias democráticas e progressistas” é uma série de eventos organizada por oito instituições promotoras da ação: Universidade Federal de Goiás (UFG); Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg-Sindicato); Instituto Federal Goiano (IF Goiano); Instituto Federal de Goiás (IFG); Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO); Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego); Universidade Federal de Catalão (UFCat); Universidade Federal de Jataí (UFJ).

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