A Igreja Católica Apostólica Brasileira surge como um marco distinto dentro da religiosidade brasileira, trazendo uma perspectiva inovadora em relação ao catolicismo tradicional. Fundada por Dom Carlos Duarte da Costa em 1945, a Igreja Católica Apostólica Brasileira foi criada em resposta a tensões e conflitos com a Igreja Católica Romana, especialmente por conta de divergências teológicas e posicionamentos políticos. O surgimento dessa igreja representa uma busca por uma expressão religiosa mais alinhada às demandas e realidades sociais brasileiras da época.
Dom Carlos Duarte da Costa, figura central na fundação da Igreja Católica Apostólica Brasileira, enfrentou uma série de conflitos que culminaram em sua excomunhão pela Igreja Católica Romana. Sua oposição a certas encíclicas papais e sua defesa de práticas mais progressistas, como o matrimônio de divorciados e a ordenação de homens casados, foram decisivas para sua ruptura com o Vaticano. A Igreja Católica Apostólica Brasileira, portanto, nasce com um propósito claro: adaptar o catolicismo às necessidades locais, mantendo princípios cristãos, mas distanciando-se da rigidez do clero romano.
A trajetória da Igreja Católica Apostólica Brasileira está marcada por um forte ativismo social e político. Dom Carlos Duarte da Costa, preso em 1942 acusado de comunismo durante o governo de Getúlio Vargas, usou sua liderança para promover a liberdade religiosa e a laicidade do Estado. Esse posicionamento destacou a Igreja Católica Apostólica Brasileira como uma entidade aberta à diversidade espiritual, chegando até a realizar celebrações em templos de outras religiões, como candomblé e umbanda, em defesa da convivência pacífica entre crenças.
No aspecto estrutural, a Igreja Católica Apostólica Brasileira apresenta diferenças visíveis em relação à Igreja Católica Romana. Sem um papa, a liderança é exercida por um conselho de bispos que elegem um presidente a cada quatro anos. Essa forma colegiada de governo e a flexibilização de regras clericais refletem o desejo da Igreja Católica Apostólica Brasileira de ser uma instituição mais democrática e adaptada à cultura nacional. O uso do verde e amarelo nas vestimentas durante as celebrações também reforça a identidade brasileira da igreja.
A Igreja Católica Apostólica Brasileira mantém uma postura progressista em temas como o casamento, permitindo o matrimônio de pessoas divorciadas e a ordenação de padres casados, o que a diferencia significativamente do catolicismo romano tradicional. Contudo, ainda não possui uma posição oficial quanto à comunidade LGBTQIA+, diferentemente das recentes orientações do papa Francisco. A Igreja Católica Apostólica Brasileira busca se destacar por sua autonomia e pela valorização da cultura e das tradições brasileiras dentro da fé cristã.
Apesar de sua relevância histórica e social, a Igreja Católica Apostólica Brasileira não é reconhecida oficialmente pela Igreja Católica Romana ou pela Igreja Ortodoxa, o que gera debates sobre sua legitimidade dentro do catolicismo global. Os rituais e sacramentos realizados pela Igreja Católica Apostólica Brasileira não são reconhecidos por essas instituições, obrigando os fiéis que desejam migrar para essas igrejas a passarem por novos rituais de iniciação. Mesmo assim, a Igreja Católica Apostólica Brasileira mantém uma base fiel que, segundo dados do censo, soma mais de meio milhão de membros no Brasil e atua em diversos países.
A relevância da Igreja Católica Apostólica Brasileira também está ligada ao seu papel cultural e religioso no Brasil, onde mantém 38 dioceses e presença em 28 países. A influência dessa igreja mostra que o catolicismo pode assumir diferentes formas e práticas, respeitando as especificidades locais sem perder o vínculo com a tradição cristã. A história da Igreja Católica Apostólica Brasileira é um exemplo de como as religiões se adaptam e transformam frente às mudanças políticas, sociais e culturais.
Assim, a Igreja Católica Apostólica Brasileira segue como um capítulo importante da história religiosa brasileira, representando uma alternativa ao catolicismo tradicional e reafirmando a diversidade do universo religioso no país. Seu legado é de resistência, inovação e adaptação, demonstrando que a fé pode se manifestar de múltiplas formas sem perder sua essência fundamental. O futuro da Igreja Católica Apostólica Brasileira depende da sua capacidade de dialogar com a sociedade contemporânea e manter seu compromisso com os valores cristãos e a liberdade religiosa.
Autor: Davis Wilson