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A Jornada de Padre Licio: Fé, Suicídio e Transformação

O padre Licio Vale, de 66 anos, vivenciou uma mudança significativa na postura da Igreja Católica em relação ao suicídio. Aos 13 anos, ele enfrentou o suicídio de seu pai, que, na época, em 1970, não teve direito aos rituais funerários católicos devido à crença de que suicidas iam diretamente para o inferno. Essa experiência dolorosa marcou profundamente Licio e sua família, que eram devotos católicos.

Na adolescência, Licio sentiu-se angustiado pela ideia de que seu pai não teria a salvação eterna. Essa visão só começou a mudar em 1983, quando a Igreja revisou o Código de Direito Canônico, permitindo que suicidas recebessem os rituais funerários. Hoje, Licio, como padre, vê essa evolução como um avanço positivo na doutrina católica, que agora dialoga mais com a ciência.

Licio realizou seu sonho de infância de se tornar padre e se especializou em prevenção ao suicídio. Ele é formado em filosofia e autor de livros sobre o tema. No Brasil, o suicídio é um assunto cada vez mais relevante, apesar do tabu que ainda o cerca. Licio acredita que a Igreja atualizou sua doutrina ao reconhecer que muitos suicidas não têm a intenção de pecar.

O padre Licio cresceu em um ambiente católico, enquanto seu pai lutava contra a depressão e o alcoolismo. Ele acredita que os tratamentos psiquiátricos da época, como o eletrochoque, contribuíram para o sofrimento de seu pai. Licio passou 30 anos em terapia psicanalítica para lidar com o trauma da perda.

Além da terapia, Licio encontrou apoio na direção espiritual durante sua formação como padre. Ele transformou a dor da perda em uma missão de vida, ajudando outras pessoas a lidar com o suicídio. Na paróquia Sagrada Família, em São Paulo, ele oferece apoio a pessoas em risco de suicídio e às famílias enlutadas.

A mudança na doutrina católica sobre o suicídio reflete uma compreensão mais empática e científica do tema. Historicamente, a Igreja via o suicídio como um pecado grave, mas hoje reconhece que fatores como doenças mentais podem diminuir a responsabilidade do indivíduo. O Catecismo de 1992 e discursos recentes do papa Francisco reforçam essa visão mais acolhedora.

Padre Licio continua sua missão, recebendo pessoas de diversas origens religiosas em busca de apoio. Ele acredita que a intenção é fundamental para considerar o suicídio como pecado, e que só Deus conhece verdadeiramente o coração das pessoas. Sua história é um testemunho de como a fé e a ciência podem se unir para oferecer esperança e compreensão.

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