A chegada do Papa Leão ao comando da Igreja Católica marca um tempo de expectativa, esperança e transformação. Em seus primeiros 100 dias de pontificado, ainda que não tenha delineado oficialmente suas grandes reformas, o novo pontífice tem mostrado, por meio de gestos, homilias e encontros, os contornos de um estilo pastoral que promete imprimir um ritmo mais contemplativo, próximo e missionário à Igreja. As escolhas simbólicas que tem feito, bem como os temas recorrentes em seus discursos, revelam não apenas o que ele deseja para a Igreja, mas também o que considera essencial para o mundo atual: unidade, escuta, paz e serviço.
O Papa Leão parece focar em um modelo de liderança que coloca a comunhão acima do autoritarismo, a escuta acima da imposição e a paz acima da polarização. Desde suas primeiras palavras na sacada da Basílica de São Pedro, ele optou por uma saudação simples e desarmada, enfatizando a paz de Cristo e a necessidade de construí-la com o coração. Não se trata apenas de uma retórica religiosa, mas de um compromisso profundo com a reconstrução de laços sociais e eclesiais. A liderança do Papa Leão, portanto, assume um tom pacificador e humilde, sinalizando uma espiritualidade de reconciliação em tempos de fragmentação.
A centralidade da Eucaristia em sua mensagem também tem sido um fio condutor nesse início de pontificado. Ao afirmar que nos tornamos aquilo que comemos — referência direta à comunhão —, o papa reforça a ideia de uma Igreja que vive da presença real de Cristo e, por isso, deve ser reflexo vivo de sua unidade e amor. Essa dimensão eucarística, ao mesmo tempo mística e prática, indica um caminho para a superação das divisões internas e para o resgate do sentido profundo da fé cristã. Para ele, a Igreja não é uma estrutura burocrática, mas um corpo vivo, que se alimenta da graça para ser fermento no mundo.
Outra marca clara da liderança de Leão é seu comprometimento com a sinodalidade. Ele não vê a sinodalidade como um mecanismo administrativo, mas como o verdadeiro modo de ser Igreja. A ideia de “caminhar juntos”, expressão que repete com frequência, traduz uma visão de comunhão que ultrapassa cargos e funções. O papa parece empenhado em ampliar a participação dos leigos, das mulheres, dos jovens e das comunidades periféricas nos processos decisórios e nas prioridades pastorais. Em suas palavras e ações, fica evidente que ele valoriza a diversidade como riqueza, e não como obstáculo, apostando na escuta como ponte para o consenso e para a construção coletiva do Reino de Deus.
A espiritualidade também ocupa um lugar de destaque nesse início de pontificado. O Papa Leão insiste que a ação pastoral deve estar enraizada na contemplação, e que é preciso cultivar o silêncio, a oração e a escuta interior para que a missão da Igreja tenha autenticidade. A referência às figuras bíblicas de Marta e Maria mostra que ele vê valor tanto na ação quanto na contemplação, desde que estejam equilibradas. Essa ênfase espiritual é um chamado ao aprofundamento da fé pessoal e comunitária, num tempo em que o ativismo pode facilmente esvaziar a essência da vida cristã.
Mesmo com uma espiritualidade profunda, o Papa Leão não ignora os desafios sociais e políticos do mundo atual. Sua escolha do nome Leão remete à herança do Papa Leão XIII, especialmente no campo da doutrina social da Igreja. Ele tem se mostrado atento às desigualdades, às novas tecnologias, às mudanças culturais e às ameaças à dignidade humana. Sua liderança parece comprometida em oferecer respostas concretas a esses desafios, não com discursos moralistas, mas com presença, acolhimento e ação solidária. O papa sugere que a Igreja deve estar ao lado dos mais fracos, ouvindo suas dores e compartilhando suas lutas.
O estilo comunicativo do Papa Leão reforça ainda mais essa nova fase. Ele fala de maneira simples, direta, muitas vezes improvisada, buscando sempre o coração das pessoas. Evita uma linguagem fria ou teológica demais, preferindo metáforas bíblicas, experiências pessoais e imagens acessíveis. Essa forma de comunicar reflete sua opção por uma Igreja próxima e humana, que não impõe, mas propõe; que não condena, mas escuta; que não se isola, mas dialoga. Ele parece querer recuperar a confiança das pessoas na Igreja, e isso passa por um novo modo de se relacionar com o povo.
Por fim, pode-se dizer que os primeiros 100 dias do Papa Leão à frente da Igreja já indicam que sua liderança será marcada por equilíbrio, escuta e impulso missionário. Ele representa uma continuidade da linha pastoral do Papa Francisco, mas com toques pessoais que apontam para um aprofundamento espiritual ainda maior. A Igreja sob sua liderança tende a ser menos institucional e mais comunitária, menos autorreferencial e mais aberta ao mundo, menos preocupada com poder e mais empenhada em servir. O tempo dirá quais serão as reformas concretas de seu pontificado, mas a direção já está dada — e ela aponta para uma Igreja que caminha com o povo e para o povo.
Autor: Davis Wilson