O Auxílio Emergencial, criado em 2020 para mitigar os efeitos econômicos da pandemia de Covid-19, revelou um panorama social até então pouco dimensionado no Brasil. De acordo com Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa Econômica Federal, PhD em Economia pela University of Rochester, Mestre em Economia pela FGV/RJ e graduado em Economia pela PUC/RJ, os pedidos ao programa evidenciaram a magnitude da vulnerabilidade da população brasileira. Foram 108 milhões de solicitações, o equivalente a 71% da população adulta do país, um dado que, por si só, já expressa a urgência e profundidade da crise.
O volume de pedidos e o espelho da desigualdade social
O número de 108 milhões de cadastros, em um universo de cerca de 152 milhões de adultos, escancarou a dimensão da informalidade, do desemprego estrutural e da fragilidade econômica em diversas camadas sociais. Muitos dos solicitantes nunca haviam sido beneficiários de programas sociais ou sequer tinham conta em banco.

Segundo Pedro Guimarães, essa adesão maciça ao Auxílio Emergencial não apenas superou expectativas logísticas, como também surpreendeu pela revelação do tamanho da população desassistida e invisibilizada pelas estatísticas convencionais. O programa funcionou, portanto, como uma espécie de diagnóstico social, expondo carências e realidades antes subestimadas por grande parte da sociedade e dos formuladores de políticas públicas.
A inscrição digital e o acesso inédito aos benefícios
Com a necessidade de respeitar as medidas de distanciamento social, o governo optou por um cadastramento inteiramente digital. Foi criado um aplicativo para que as pessoas solicitassem o auxílio, mesmo sem histórico de relacionamento bancário. A democratização do acesso foi possível graças à criação do Caixa Tem, plataforma digital leve e funcional, utilizada por milhões de brasileiros em celulares simples.
Conforme indica Pedro Guimarães, a implementação dessa ferramenta permitiu que pessoas que viviam completamente fora do sistema financeiro formal fossem incluídas. Além disso, abriu-se um canal direto entre o Estado e o cidadão, sem intermediários físicos, marcando um avanço no modelo de entrega de políticas públicas.
A aprovação de 67 milhões e o perfil dos beneficiários
Após a análise criteriosa dos pedidos, 67 milhões de brasileiros foram aprovados para receber o benefício. A triagem levou em conta critérios como renda per capita, número de dependentes, vínculo empregatício e participação em outros programas. O perfil dos beneficiários mostrou uma predominância de mulheres chefes de família, trabalhadores informais, desempregados e microempreendedores individuais, principalmente das regiões Norte e Nordeste.
Assim como aponta Pedro Guimarães, esse mapeamento teve um valor estratégico para políticas sociais futuras. Com base nos dados do Auxílio Emergencial, foi possível ter uma visão mais clara das regiões mais afetadas, dos públicos mais vulneráveis e dos gargalos estruturais de atendimento do Estado brasileiro.
O impacto do Auxílio Emergencial na economia e na cidadania
Além de evitar o colapso imediato de milhões de lares, o Auxílio Emergencial teve papel relevante na manutenção da atividade econômica básica em meio à crise. Os recursos movimentaram o comércio local, garantiram alimentação, remédios e despesas essenciais, especialmente nos municípios mais pobres.
De acordo com Pedro Guimarães, o impacto do programa foi além do aspecto financeiro. Ele representou também um gesto de reconhecimento do Estado à existência dessas pessoas. Muitos beneficiários, pela primeira vez, se viram incluídos em uma política pública direta, recebendo valores mensais sem burocracia excessiva e com maior dignidade.
O que os 71% nos ensinam sobre o Brasil
Os pedidos ao Auxílio Emergencial revelaram uma realidade dura, mas necessária de ser enfrentada. O número de brasileiros que buscaram o benefício nos primeiros dias do programa é, por si só, uma radiografia fiel da desigualdade e da urgência de reformas estruturantes no país.
Conforme destaca Pedro Guimarães, o aprendizado que fica é que, diante de um cenário de crise, a capacidade de resposta do setor público precisa estar acompanhada de sensibilidade social, inovação tecnológica e foco na inclusão. Os 71% que buscaram ajuda em 2020 são uma estatística que fala alto, e que deve continuar ecoando nas decisões futuras sobre como construir um país mais justo, acessível e preparado para proteger seus cidadãos em qualquer circunstância.
Autor: Davis Wilson